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26.4.13

#58 - Encontro marcado com a solidão



Foto de Gabriel Ferri Anca

Durante alguns dias preferiu a solidão. Não saiu de casa. Uma atitude próxima da loucura: a de negar o fim, a separação, a partida.  

Ele ainda imaginava o dia a dia com ela presente. Deixou diversos recadinhos colados na parede do quarto, como se ela fosse gostar da surpresa ao voltar do serviço. Tentou ligar e acabou deixando recado na caixa eletrônica. No fundo, ele sabia que o celular dela estava guardado na gaveta de casa, mas a falsa esperança parecia suprir a ausência.

Chegou a ir à igreja procurar refúgio, tentar resgatar aquela fé que há tempos não tinha. Queria ter algo que suprisse a dor, como se existisse uma receita pronta para isso. Começou a andar por toda a cidade, sem ter rumo certo.

Decidiu, então, ir até o lugar onde tudo começou. Sentou em baixo da árvore onde acontecera o primeiro beijo. Por horas observou as pessoas que caminhavam no parque e não conteve o choro. Deitou sobre as folhas secas que estavam no chão e olhou para o céu.

Na mente vinha a última imagem dela, entrando na sala de embarque. Acompanhou com o olhar até onde pôde, até ela sumir e não poder fazer mais nada. A sua vontade era sair correndo, driblar os seguranças, destruir tudo e chegar até ela. Vê-la pela última vez, impedi-la de ir. Tudo o que ele queria era ter mudado o rumo com que as coisas aconteceram.

Já era final da tarde. Adormeceu deitado sobre as folhas secas, olhando para as nuvens cinzas que cobria o céu.

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