Foto de Gabriel Ferri Anca |
Durante alguns dias preferiu a solidão. Não saiu de casa.
Uma atitude próxima da loucura: a de negar o fim, a separação, a partida.
Ele ainda imaginava o dia a dia com ela presente. Deixou
diversos recadinhos colados na parede do quarto, como se ela fosse gostar da
surpresa ao voltar do serviço. Tentou ligar e acabou deixando recado na caixa
eletrônica. No fundo, ele sabia que o celular dela estava guardado na gaveta de
casa, mas a falsa esperança parecia suprir a ausência.
Chegou a ir à igreja procurar refúgio, tentar resgatar
aquela fé que há tempos não tinha. Queria ter algo que suprisse a dor, como se
existisse uma receita pronta para isso. Começou a andar por toda a cidade, sem ter
rumo certo.
Decidiu, então, ir até o lugar onde tudo começou. Sentou em
baixo da árvore onde acontecera o primeiro beijo. Por horas observou as pessoas
que caminhavam no parque e não conteve o choro. Deitou sobre as folhas secas
que estavam no chão e olhou para o céu.
Na mente vinha a última imagem dela, entrando na sala de
embarque. Acompanhou com o olhar até onde pôde, até ela sumir e não poder fazer
mais nada. A sua vontade era sair correndo, driblar os seguranças, destruir
tudo e chegar até ela. Vê-la pela última vez, impedi-la de ir. Tudo o que ele
queria era ter mudado o rumo com que as coisas aconteceram.
Já era final da tarde. Adormeceu deitado sobre as folhas
secas, olhando para as nuvens cinzas que cobria o céu.
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