Janira Muños - Barcelona |
- Foi mais fácil do que pensou?
- Tudo que eu queria era te ver.
- Está me vendo.
- Olha pra mim.
- Você tem que respeitar o tempo das coisas.
- Só quero olhar pra você.
- Então espera. Tudo tem o seu tempo.
- E por que você foi embora sem me falar nada? Sem me falar
pra onde?
- Por que a vida nem sempre cabe na palma das mãos.
- Digo o mesmo pra você. Vai ficar de costas?
- Estou pintando.
- Eu te amo.
- Eu também.
- E o que é tudo isso aqui?
- Dê tempo ao tempo.
- E esse quadro que você está pintando? É o mesmo traço que
eu fiz na parede.
- Foi uma maneira de te trazer até aqui. Primeiro você vai
ter outras coisas pra fazer, pra resgatar. E depois vai saber o porquê desse
quadro.
- Quais coisas? Eu só quero você por perto, quero você
comigo.
- Mas é com essa distância que você vai valorizar todo o
nosso amor.
- E você está dizendo que eu nunca valorizei?
- Não disse isso. Quero apenas que você dê tempo ao tempo.
Na caixa que eu te enviei tem outros objetos. Saiba tirar a mensagem de cada um
deles, todos têm um motivo para estarem ali. E, por último, vai começar a nossa
melhor brincadeira, aqui dentro desse ateliê.
- Quanto tempo?... Ei, fala comigo...
Por fim, estava de volta a sala, com o pincel na mão. Olhava
para a parede sem entender nada. Chorei sem perceber. E, de novo, parecia que
tudo estava começando do zero. Todo o sofrimento, toda dor. A dor pela
saudade, pela incógnita. A dor pelo amor.
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