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5.5.13

#49 - Pesadelo




E, de repente, ela acabou com tudo. Assim mesmo, sem mais nem menos, tudo que construímos se acabou.

Por telefone.

Desliguei atordoado.

Os negativos de nosso filme rodavam na minha cabeça. Nenhum conseguia se projetar no coração.

A sala estava cheia. Todos comiam pipoca e chocolate. Casais abraçados queriam ver o espetáculo.

Lágrimas nem sempre eram a solução. Chorei. Procurei a solidão correndo. Corri até o abismo. Percebi que isso era tudo que eles queriam. Começaram a entender o fim.

O filme começou. Plateia atônita. Queriam rir? Chorar?

Começaram a ver a tortura de uma história. Cada detalhe era muito.

Tudo é princípio, tudo é primórdio, primeiro.

O primeiro olhar, primeiro beijo, primeiro toque. A primeira vez que senti o seu perfume, a saliva. A primeira vez que a toquei e lhe arranquei suspiros. A primeira vez que dissemos que era amor. O primeiro mês, o segundo. O primeiro ano. A primeira despedida. Tudo isso se projetava na tela.

Plateia de boca aberta. 

A última ligação antes de dormir. O último "eu te amo" antes de dormir. O último "Até amanhã". 

Sono sem fim.

O sonho. O pesadelo. 

A plateia fugiu. A sala estava vazia. Não tinha filme nenhum.

Acordei com a campainha. Era dos correios.

Soluçava o pesadelo entalado na garganta.

Acordava eu aqui.

Juntos ou distantes.

Um dia a mais do resto de nossas vidas. 

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