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4.5.13

#50 - Eu reconheço, amor.

Niki Dima - Atenas, Grécia


Quantas vezes precisei viajar sozinho: a trabalho, estudo, diversão... Quantas vezes deixei você em casa por uma semana, duas no máximo, mas deixei. Você me esperava. Mesmo com a saudade insuportável. Me esperava regando todos os dias a jabuticabeira, a samambaia, fazendo o café da manhã, cuidando do nosso cantinho.

Agoniada, aflita, querendo notícias, respostas, saber se eu estava bem, o que eu estava fazendo, com quem. Vira e mexe me interrogava, pedia a ficha completa de meus passos, e eu não entendia por quê.

Dois ou três dias sem escutar sua voz. Talvez uma mensagem ou  ligação de poucos segundos, e mesmo com a pequena distância nossos corações se esmagavam.

A distância jorrava como água quente, cozinhava o nosso amor, deixava-o mais sensível, à flor da pele. E não importava ser apenas um dia de distância, ser dois, uma semana. Qualquer minuto longe fazia a diferença.

Os dias passavam por passar. Nada tinha importância pra nós dois. Pra mim, às vezes, o compromisso. Pra você, a solidão. O facebook, o almoço em família, a casa, as plantas, a escola, nada fazia sentido.

Nossos corações se dividiam, paravam, ficavam em stand-by.

Agora, o jogo mudou, e meu coração se foi para onde você está. Reconheço, meu amor, que essa dor parece eterna e sem fim. Chegou minha vez de ficar agoniado, aflito, imaginando mil coisas. Na cabeça passa o lado pai, irmão, amigo, amante.

Dias longe, sem sentido, querendo consumir uma informação que não existe, querendo consumir o seu corpo. Inventando uma geografia particular, um mapa próprio onde eu consiga localizar você. A única coisa em comum entre nós são os dois corações pulsando juntos.

Queria pedir pra trazer de volta o que levou embora.

A dor que critiquei, subestimei, agora eu sinto. Essa dor volta pra mim ainda mais forte. Sinto na pele o que você sentia quando encharcava o nosso travesseiro de lágrimas.

Quando a saudade bate no peito, ela transborda pelos olhos.

Dói, muito, e minha cabeça fica em você, não tenho saída. Explodo. Olho para todos os lados, desesperado. Dói demais. Nem morfina resolve.  Cada lágrima que já dedicou a mim, dedico o dobro pra você, sem saber se vamos nos ver de novo. Sabendo apenas que mesmo com dor o nosso amor continua vivo.

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