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4.6.13

#19 - Agonizante como suicídio

Salvador Dalí

Meu coração vive com marteladas da vida que pregam centenas de pregos, perfurando ainda mais a minh'alma.

Sim, eu penso em me jogar do quarto andar.
Penso em me amarrar numa âncora e pular em alto-mar. 
Perder todos os sentidos afogado, torturado pelo desespero e falta de ar. 
Desespero que talvez seja menos agonizante que essa saudade.

Fecho os olhos no momento de loucura e me jogo dentro da banheira de casa. A água do chuveiro cai sobre a cabeça, me deixando aos poucos sem ar. Com a banheira já cheia, começo a escorregar para o fundo. Escorregar e sentir a água tomar todo o meu corpo, pescoço, minha cabeça inteira, até afundar. 

Os minutos passam, e eu sou tomado pelo desespero, pela agonia de ver sobre mim a superfície da água que me empurra para o fundo. Estou entre os extremos. O desespero da falta de ar e a liberdade logo em cima. Nessa hora é impossível não pensar nas suas palavras. 

Eu quero você, e a morte não me proporcionará isso. Você dizia pra mim que se eu fosse embora iria estragar nossos planos juntos, iria entregar você na mão de um futuro novo amor e fazer com que realizasse nossos sonhos com outra pessoa. 

Sim, é egoísmo da minha parte. Mesmo não tendo vontade nenhuma de viver sem você aqui. É egoísmo recorrer ao que há de mais fácil na frente. 

Engoli pouca água, mas voltei à superfície a tempo de não levar a ideia adiante. Tempo de me entregar ao que o coração não consegue suportar. Ofegante, chorei compulsivamente. 

Junto das lágrimas vieram palavras que foram diretas para o papel.

De repente, da janela vizinha, uma música. E, como o vento do mar em um fim de tarde de verão, Vinicius de Moraes sussurrou versos que preencheram uma parte do meu vazio:

"Amo-te afim, de um calmo amor prestante, 
E te amo além, presente na saudade. 
Amo-te, enfim, com grande liberdade 
Dentro da eternidade e a cada instante." 

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